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Mostrando postagens de setembro, 2008

O filme

Dos olhos jorra um mar salgado Se debatendo em convulsões chorosas Anuviados pela dor alheia Chovem cumplicidade Fixos no horizonte azulado da tela da TV Embebidos em dramaturgia cinematográfica Histórias atuadas, por vezes, tão próximas de nossa história vivida De nossa história de vida De nossa história sofrida De nossa história querida No final para além dos créditos finais Nos sobram grossas listras coloridas acompanhadas de um som em linha reta Tuuuuuu..... No final para além de nossos créditos totais Nos resta um tênue fio de vida acompanhado de um som em linha reta Tuuuuuu..... E na extensão da imensidão pela última vez rolam os dados O filme acaba, mas seu fim é só o começo....

Tripartida

Foi-se meu espírito a assoviar, levezinho a pairar pelo ar E minh’alma que pena! É penada, foi-me impossível seguir-lhe à revoadas Aos dois ambos livres, saltam tensões, alusões Dos dois não sei qual sou mais eu menos eu Detentos do corpo, pesado e selado Sorrisos e choros só ele estampava Já eu trilogia, tripé, tripartida Se alma, se corpo, se espírito, não sei qual mais sou Assim me levam me enlouquecem, me tiram a razão, o senso Os três, como balas, traçam o espaço, perpassam o tempo Em mim os guardo todos De mim me guardam toda Pois no fim de mim enfim, removerão- me os pensamentos, os princípios, a moral, a crença e a descrença, as questões, o prazer e a dor, a memória e o saber De mim se alimentarão, até nada mais sobrar A luz se apagará, os olhos se abrirão, uma porta irão ver, por trás da qual, avistarão uma fresta iluminada por uma senda anil no céu A porta aos poucos se fechará e nas trevas travar-se-á o fim Eterna condenação! Essa força que me reduz a pó

Quem de mim

Quem de mim carrega o som, o silêncio, a solidão dos passos na calçada Da fragata apagada, rebocada na calada da velada madrugada Sou só eu e minha alma desbocada, destampada na maré desalentada Um suspiro desse nada nessa noite estrelada Um arrepio dessa pele já gelada e desgastada

Roça alma, alma torta

Lá na roça eu dormia mais profundo que a cutia Lá de longe se ouvia melodia caipira A chuva A mata virgem Me embalavam no sossego Era longe Era perto Infinita escuridão Vaga – lume Vaga estrela Brilha o olho da coruja Pingo d’água Pingo prata Que goteja no cerrado Na minh’alma corre um rio mais escuro que argila Quanto mais nela mergulho mais profunda vou ficando Dentro dela eu carrego a tristeza dos cavalos açoitados no trabalho E o receio das galinhas assoladas no poleiro Toda torta Bicho torto Do pé torto enlameado Não tem jeito É recalcada E já se foi pro atoleiro

Demônios familiares

A fonte do mal, que fingimos ou mesmo nos condicionamos a acreditar ser exterior, provém de nós mesmos. Não há o que combater em criaturas pertencentes a esferas abaixo da nossa, longe do que somos sempre à espreita. Não há nada além de nós mesmos nas sombras do vale a negar nossa obscura natureza, que por tantas vezes tem se revelado monstruosa. Com ela procuramos romper os vínculos, evitando cumplicidades, inventando demônios dotados do horror que não somos capazes de assumir como nossos próprios. Com tanta paixão os combatemos como se representassem ameaça externa. Ah se estivessem mesmo lá fora No escuro do quarto Nos becos das ruas Prontos para nos tentar Ah se fossem mesmo demônios Se fossem mesmo eles a fonte do mal com qual nos chocamos Estaríamos prontos para seguir adiante Estaríamos prontos para escolher entre tê-los junto a nós ou rechaçá-los Estaríamos prontos para vencê-los definitivamente Quanto já não se passou e cá estão a nos zombar, como sempre o f

Dos dias aos dias

Dos dias incríveis que achei jamais fossem findar-se, à beleza da chuva que lhe lambia os ombros cobrindo-os de nódoas prateadas. Aos dias terríveis em que o tempo parecia um infausto, à aflição de vê-lo partir, de conter-me parada, quando na verdade as pernas imploravam correr-lhe ao encontro. Dos dias perfeitos em que o sol beijava-lhe a face e dos lábios entreabertos surgia um horizonte luminoso, enquanto permanecia sentado a se aquecer, se soubesse que em meu coração corre seu sangue e que meus sentimentos são tão seus quanto meus... Aos dias intempestivos em que se ia correndo para alcançar o bonde que lhe parecia fugir, se soubesse que seus pés são meus pais e seus passos meus guias... Dos dias maravilhosos em que nos sentávamos quietos e nossos olhos nem mesmo piscavam, se soubesse que somos ligados muito além da linhagem genética... Aos dias malditos que de você me afastei, para uma localidade remota, se soubesse que de você herdei vida... Dos dias repletos que com você