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Mostrando postagens de junho, 2009

Dor

Gosto de ferir-me os dedos Rasgo-lhes a pele Sugo-lhes o sangue Um gosto metálico, desagradável Escorre ardido, dolorido Mordo a chaga, estanco a fenda Humor instável Temperamento sanguíneo Cravo as unhas na ferida Provoco incessante A dor cresce aos poucos Assim, um pouco mais a cada investida Sensação mais ou menos aguda Picadas de vespa Deixo adormecer a dor para acordá-la novamente O caminho de volta é um caminho sem volta A penetrar na pele uma dor que nasce na alma

Ioiô

Correndo de cá para lá Matando o corpo em agonia Bate cansaço, ó meu deus Passou-se a semana a voar Bate de cá para lá Bate no peito agonia Quando se vê já se foi Quando se vê já foi dia Ah que já fora-se o tempo Ioiô vai e vem Já se foi

Das verdades

Verdades vêm tarde Verdades faladas machucam Porque ferem os ouvidos, o ego Porque nos lembram de que somos humanos De tudo aquilo que já sabemos no fundo ser mesmo verdade Do caráter que intimamente conhecemos Das limitações, que nem sempre queremos Perdidas em meio a exigências Auto-superações Mas quando nos falam Em alto e bom som Dos defeitos que sempre enumeram, qualidades que deveriam ser muitas Ah então nos lembramos, de que somos mesmo humanos falíveis Nos lembramos de que devemos ser muito além Muito além do que somos As verdades que dizem machucam Mas não mais do que aquelas que calam Verdades caladas não lembram jamais, de que somos humanos Estão acima e além do que somos E então as verdades machucam Faladas e caladas Porque não conhecem jamais, daquilo que é humano

Teus passos

Teus passos no corredor deixam vestígios de som quase amargo de escassa saliva na boca fechada Minha casa um labirinto de sons escuros sobressaltados sons sumos de limão E quando tomam o aspecto entre doce e azedo aperto os olhos para abri-los e ver tudo ao redor ainda mais nitidamente num gozo momentâneo e intenso para se dispersar aos poucos feito perfume pulverizado no ar As gotículas caem em câmera lenta do alto até o chão colorindo corredor labirinto em fragrâncias prazer delas breve alegria Giram avulsas a dançar cores e flores Frenesi brasa ardente Tempero açafrão Sopros cordas vozes Cântico à vida Ponte entre ausência presença Ode aos passos que se deram Calores exaltados Canto à tua presença Deles pegadas restos que ficaram Calores exalados Canto à tua ausência Teu ir e vir Fluído fluxo Que ora se elevam Ora se cavam na superfície agitada do corredor labirinto de teus passos Instrumentos sonoros ecoam pelo ar postos em vibração A agitar sons destemperes

Saindo...

Quando vou-me para estes lugares, Repletos de luz De música E gente A gargalhar Articular Pavoneando-se Em artifícios Customizados em tópicos banais Ali fico eternamente a mentir estar ouvindo Prefiro nada dizer Recosto-me ao assento mais macio Os olhos fixos num ponto fixo A alma solta a vagar no espaço Dali a mil anos luz A fugir dessa chatice

Noites de inverno

Garoa lá fora a perder de vista vapores naturais Como a fumaça de um navio distante a se afastar Pairam de mansinho por sob a noite fria Num beijo de boa noite aqueço o coração Recua devagar a sombra na soleira De mim resta o silêncio Flauteando o sono entre as cobertas No silêncio irrompe o latido dos cães Nesta noite um afago nostálgico Fico a imaginar o mundo encantado Desenhando sombras na parede Dos vestígios de luz do hall Despistando as investidas de Hipnos Elevando o instante ao infinito Vai passando devagarinho Coral que aos poucos perde a entonação A alma chama A voz cala Longínquas são as pátrias Pátrias do meu coração E das terras apreensão Delas pouco sabe a razão Num sopro a me levar À margem do rio que ousaste atravessar Embarcação errante névoa traiçoeira Não há rosto nos homens doutra margem Numa noite que me parece infinita Hei de embarcar a remar sem direção E me juntar aos homens sem rosto noutro lado da margem