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Mostrando postagens de setembro, 2009

Momento

A imagem presa num pedaço de papel Como mágica que escapa do tempo Saudade cristalizada no coração Um jeito cabisbaixo meio que sem esperança No momento não havia percebido aquele seu olhar No presente me dei por vencida, afastei-me em receio De que sua tristeza fosse maior do que eu Para mim era aquele mirado triste de quem olha para baixo Buscando um sentido nas coisas pequenas, naquelas que mal enxergamos Como se estivessem aos nossos pés, fáceis demais para perceber Breves demais para se alcançar De cabeça e ombros curvados à procura de si mesmo Como lhe pesava o mundo, olhos calados Silêncios d’álma, relógio a pender Sorvedouros d’ouro A tudo pareciam suportar Pudera eu ter segurado sua mão Contemplei sua alma a errar distante Meu coração apertado, cismado com o peso do seu Mais parecia magia aquele seu olhar, mar a inundar Aquele ainda hoje a persistir num pedaço de papel Meu corpo tensão, pura apreensão O momento passou, O momento ficou, Eternamente, O

Corpo humano

Não quero beber Quero sede, seca Não quero conforto Quero desalento, abandono Venta frio, não me cubro Não este corpo... Não quero me aquecer Ele chora, arrepia, se encolhe Sofre, implora, quer... Só o que faz é pedir, desejar E digo não... Espero a resposta Involuntária Grita, ordena Brinco, me nego Provo que não me controlo, Não me pertenço, Isso... Diga... Agora, diga... Diga que sou eu Quem está no comando Máquina orgânica Circuitos neurais Anatomia caótica, ordenada Calafrio, febre e dor... Corpo e mente repartindo-se em milhares de células mil Quebrando cadeias, arritmia cardíaca Genética herdada, esse corpo, anticorpo Embate orgânico Perdendo, repondo Mal externo, ah esse corpo... Mente estilhaços, quer reger Engolfada, sangue a fora Do coração à via central Corpo linguagem biológica Vida a pulsar Vida a se esgotar Sangue a se exaurir Absoluto a se acabar Não lhe posso impedir Envolva-me, me envolva E escolha nada ter para tudo ser

Pedido 4662

Meus dedos são como estacas rachadas Prontos para perfurar, cavar esse solo erodido Nesta sala fechada, abafada em meio a lasers Tambores eletrônicos, aborígenes expatriados O perigo ronda, devora destemido Não há o que temer, não há o que temer... Ecoa no ar, invariavelmente Num mar onde somente os corpos falam Irrompe maré alta que tenciona involuntária Cataclismo ilícito se move de dentro para fora Rostos inexpressivos Pálidos, cambiantes São só borrões de tinta Seus corpos fumaça Ondulando, ondulando... São todos um só terreno Mergulho, toco no fundo Bebo dessa superfície Aspirando que seja perene Peço, e peço, para que não acabe nunca Sofro a influência dos astros E tudo passa, cedo ou tarde

Morte

Quem a ti não temer Teus olhos miméticos Tua foice implacável Teu ponteiro certeiro De teu beijo irá levar o sabor Em teu enlace mergulhar devagar Destinado a nos escoltar Lira distante Chamado lacônico Teu lamento um encanto Bramido suave a clamar Meu nome em tua boca chamar Teus versos a decantar Anjo a cantar Para meu espírito cativar E minha alma levar Para todo lugar Num abraço a consagrar Derradeira essência a chorar E verdadeira existência firmar Por ti não haverei de chamar A ti não haverei de negar Por ti não haverei de esperar A ti haverei de aceitar Eternamente em meu coração

Dia de chuva

Sensação eterna de incompletude Lembrança remota, difícil de se alcançar Suspensa no meu coração De longe, familiaridade, raridade No céu branco, somente pássaros em revoada E a chuva, cortejo brilhante, ruído cadente O cheiro da terra, quando queda no solo Inconfundível, indescritível Da memória, o aconchego Das janelas, cursos d’água Correndo, escorrendo, Alimentando a terra Alimentando a farra dos pardais no telhado Nutrindo a nostalgia, crescente corredeira Fim de tarde a suspirar Dia de chuva, dia de chuva Os olhos chovem alimento d’alma Pedindo aquilo que o tempo tira

Roda do Tempo

Cedo, ao alvorecer da vida, hei garotos, moleques, grilos serelepes no jardim a suspirar, para que a roda do tempo se estanque, gire lenta, quase a parar num sonho ensolarado, chuvoso, num bailarico infinito. Crescidos, esguios, no alarde das valentias, valsejos de amor, vapores suspensos elevados à décima potência, respirações anelantes, ações alarmantes, disritmia pulsante, a roda acelera às voltas de um tempo sem volta, engrena sem medo até desabar em perene ilusão. Crescidos descrentes, maduros amargos, transeuntes perdidos na roda furiosa, estrelas cadentes que descambam em desajeito, morro abaixo, morro abaixo, morrendo, morrendo...