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Mostrando postagens de maio, 2010

Uma luz

Está frio aqui onde estou Tanto que te causo arrepios Meu tormento é um mal estar em teu coração Tento sempre falar-te sutilmente o que sinto De um jeito que não te assuste nem te afaste No escuro da noite, venho insistentemente te encontrar Quando todos dormem, inclusive você, que parece descansar na paz do silêncio que jaz em teu quarto Tento demonstra-te minha presença, chamo-te a atenção e acabo por tirar-te o sono Então, você me diz que está tudo bem e relembra coisas agradáveis de seu passado para me confortar com o amor dele exalado Me diz que estamos a bordo de uma espaço-nave dourada, que sai por ai a iluminar corações abertos a uma energia sutil Cortesia benévola aliada a delicadeza de figura cósmica e então, um abraço, um sorriso, me espera no infinito desta vida.

Luzes de natal

Imagine, eu digo E então fecho os olhos E sinto que o ar que respiro é minha casa Sinto as luzes se acenderem As luzes que tanto esperei Luzes de natal Piscam no escuro Se eu abrir os olhos Não poderei evitar O coração se desfazer E perceber que sou toda emoção Mais emoção que razão Só assim posso viver Porque tudo aqui é para se emocionar Então não evito, Acompanhar a dança das luzes Não há lógica no que sinto Nem ciência no que digo Não há verdade no que vejo Se eu quizer, a música irá tocar E então será natal

Última hora

Sou das coisas mal planejadas Dos feitos de embora, de última hora Do coração batendo à frente do tempo Pressa infantil Dos que não esperam Saem batido as portas do tempo Abrigados num relógio Um coração tic tac Hoje é o prazo final Hoje é o dia em que começa E o dia em que termina É próximo o último grão de areia Que brinca se cai ou se não cai Sobe desce, numa gangorra de agústia Pende e toca o final, num chamado do tempo Medida arbitrária da duração das coisas Afinal tudo acontece, ao nascer e morrer do dia

Insetos

Ao fim da tarde, quando o céu em brasas cede espaço ao marinho azul que se apaga às luzes estelares de vaga lumes distantes no infinito, vou-me até janela e o ar queima vapores sulforosos, CO2, tragos e urros de ônibus e carros. Os bueiros, bocas imundas, arrotam insetos, hálito moderno da sujeira ordinária que aos poucos engole a cidade. Fecho a vidraça e de dentro vejo os insetos, pequenas cruzes do sacrifício humano, negros, brancos, amarelos, mistos, suspensos no ar, batendo compulsivamente suas cabeças na vidraça em busca de luz, em busca de sangue. Um exército faminto de timbres, zunindo numa só frequência, do instinto, da sede, da fome. Milhares deles intentam invadir minha torre, meu observatório terrestre. Rufam os tambores a espreita de minha fraqueza, vontade minha de seguir para além do olhar inocente, deliberado a agir, envenenar-se de toda peçonha que à minha porta bate.