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Há algum tempo opero no limite. Até onde se estendem as fronteiras que me cercam, entre visão e cegueira, eminencia de emergir. Prestes a submergir de volta ao fundo, ao silêncio eterno dos oceanos calados, onde mal se propagam as ondas de som. Universo infinito a calar o caos insignificante das vidas que aqui se chocam para sobreviver.
Certo dia chorei no caminho para casa, um retorno custoso, certa do cansaço. As lágrimas continham no sal amargo das águas que rolam, um sentido que se afasta dos dramas da vida, da teia de relacionamentos que nos envolvem e aprisionam nas mais obscuras tragédias. Um mundo de milhares de egrégoras, imensos cúmulos a escurecer, entristecer.
Aos poucos a mente que insiste em reger meus movimentos, pensamentos, sentimentos, começa a desvelar o caminho linear e certo da vida, um novelo intrincado, labirinto confuso, um quebra-cabeças que jamais se encaixa. O filme retrocede ao passado e então começo aos poucos a desaparecer, apagar-me diante dos eventos que forjaram uma história de vida.
Pondero sobre a possibilidade de definitivamente apagar os registros que me identificam como parte da vida daqueles que assumiram papéis neste filme da vida e então me desloco do universo onde meu ser significa o que quer que seja para aqueles que por mim passaram, para um em que ainda não emergi como vida assim como a concebemos.
Num mundo de silêncio e observação, sem que haja interferência dos dramas de demasiadas origens, das dores de infinitas naturezas, um eterno entender, uma compreensão que transcende a vida humana se me revela possível, um ser que independente da matéria, pura energia a existir e mover-se infinitamente além do tempo. Além da humanidade. Além da verdade. Além da moral. Além do organismo simples e complexo.
E se pudesse ser além das fronteiras do saber. Além do conhecido. Do experienciado. Do possível.
E se eu pudesse deixar de ser a individualidade de um ser que se difere dos outros neste mundo. E se pudessem cair os muros do que sou, da personalidade que anima este corpo, da singularidade que impulsiona esta vida e se pudesse fazer parar esta mente que tagarela e ofusca a beleza do silêncio.
E se pudesse deixar a transitoriedade para ascender ao que não teve princípio nem há-de ter fim.
Aos poucos o movimento foi apagando as milhares de existências e o coração que a pouco se ressentia em deixar e se desapegar, foi-se aquietando e aceitando o desconhecido, ouvindo pacientemente as vozes se calarem, os vultos se apagarem, as ameaças se extinguirem, chamando para si o infinito daquilo que jamais fora experimentado. É certo que as retas paralelas irão se cruzar em algum ponto no espaço. Suspiro aliviada.

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